O município tem mais de 32 mil crianças entre 0 e 6 anos, de acordo com o último Censo. Trabalhar com foco em suas necessidades é não só atender uma parcela significativa, de mais de 12% da população local. É também evitar gastos sociais maiores e elevar os ganhos para toda a sociedade no futuro. O dinheiro aplicado em cuidados com as crianças volta para a sociedade na forma de economia com programas sociais, taxa de violência menor, nível salarial maior (que se traduz em produção maior de riquezas e mais impostos para manter os programas do governo).
No caso das crianças de Boa Vista, os indicadores mostram as seguintes prioridades:
SAÚDE
>> Em cada dez mortes de bebês de menos de 1 ano na cidade, quase 6 poderiam ser evitadas com ações mais eficientes de assistência a gestantes e ao recém-nascido, melhores condições de parto, diagnósticos e tratamentos mais precisos ou ações de promoção da saúde.
>> Quase um quinto dos bebês que nascem no município tem uma mãe de 19 anos ou menos. Como em quase todo o país, essa taxa caiu desde o início do milênio; mas caiu muito pouco, apenas 10 pontos percentuais.
Uma das recomendações para enfrentar esses problemas é aumentar a cobertura do programa Estratégia Saúde da Família, que hoje atende apenas 37% da população. A ampliação dessa política pública pode influir em várias questões ao mesmo tempo: alerta para risco de violência contra crianças, incentivo à matrícula na creche e aleitamento materno, ampliação dos cuidados contra obesidade etc. Além de estendê-la, é fundamental fortalecer as ações de educação permanente para qualificar cada vez mais as equipes.
NUTRIÇÃO
>> Quase 8% dos bebês nascem com menos de 2,5 quilos, o que pode ser sinal de problemas nutricionais durante a gestação ou falhas na assistência durante o pré-natal. A prematuridade e as cesarianas também são um importante vetor do baixo peso ao nascer.
>> Para as crianças de até 5 anos, 3% estão abaixo do peso recomendado, e 6% estão acima.
Conclui-se desses índices que se deve investir em orientações sobre alimentação, com auxílio das visitas domiciliares e das equipes da Estratégia Saúde da Família. Além disso, é preciso atentar para a alimentação oferecida nas creches e pré-escolas.
PARENTALIDADE
>> Só metade das gestantes realiza sete ou mais consultas de pré-natal. É um índice bem abaixo da média nacional, de 70%. O recomendável é que cada vez mais gestantes tenham esse nível de atendimento, uma vez que ele pode ajudar muito no controle da mortalidade infantil por causas evitáveis.
PROTEÇÃO
>> Quase 8 mil crianças de menos de 6 anos vivem em famílias pobres ou extremamente pobres que não estão inseridas no Programa Bolsa Família, de acordo com as inscrições do Cadastro Único para Programas Sociais. Este dado realça a necessidade de rever os programas de enfrentamento da pobreza no município, priorizando o atendimento de famílias que tenham crianças de menos de 6 anos.
>> A violência contra crianças de até 4 anos ainda preocupa. Foram 24 notificações em 2017. Como só são contabilizados os casos que geraram atendimento médico ou hospitalar, este índice é a parte visível de um fenômeno bem maior, de situações que não chegaram a esse extremo. Uma vez que nesta idade as crianças não têm muita autonomia para sair sozinhas, é em casa que esta violência acontece, na imensa maioria das vezes.
É crucial, portanto, desenvolver programas de orientação e capacitação das famílias para práticas de parentalidade positiva. É preciso mostrar que violência não educa, apenas traumatiza. Este é outro ponto em que os programas de visitação domiciliar e uma boa cobertura das equipes da Estratégia Saúde da Família podem ajudar.
EDUCAÇÃO
>> A oferta de creches no município é baixa, atende apenas 10% das crianças até 3 anos. É importante lembrar que os estímulos, a socialização e a atenção que as crianças podem receber ali são um impulso ao desenvolvimento pleno dos indivíduos. A meta proposta pelo Plano Nacional de Educação (PNE) é de 50% de atendimento até 2024, em nível nacional. E o Índice de Necessidade de Creches (INC), metodologia que permite estimar a quantidade de vagas necessárias com base na priorização dos grupos que mais precisam delas, aponta uma necessidade ainda maior, de 56%.
>> A taxa de matrículas na pré-escola também está muito aquém do razoável, com apenas 84% das crianças de 4 e 5 anos atendidas, enquanto a meta é a universalização. Não é à toa que esta é a primeira etapa obrigatória da educação básica – já foi comprovado que ela é crucial para todas as crianças por oferecer os estímulos essenciais para o desenvolvimento.