Campo Grande – MS

A cidade tem mais de 68 mil crianças entre 0 e 6 anos, de acordo com o último Censo. Trabalhar com foco em suas necessidades é não só atender uma parcela significativa, de 9,5% da população local. É também evitar gastos sociais maiores e elevar os ganhos para toda a sociedade no futuro. O dinheiro aplicado em cuidados com as crianças volta para a sociedade na forma de economia com programas sociais, taxa de violência menor, nível salarial maior (que se traduz em produção maior de riquezas e mais impostos para manter os programas do governo).

No caso das crianças de Campo Grande, os indicadores mostram as seguintes prioridades:

 

SAÚDE

 

>> Pouco mais da metade das mortes de bebês de menos de um ano no município (52%) poderiam ser evitadas com ações mais eficientes de assistência a gestantes e ao recém-nascido, melhores condições de parto, diagnósticos e tratamentos mais precisos ou ações de promoção da saúde.

 

Uma das ações para reverter esse quadro pode ser o aumento da cobertura das equipes da Estratégia Saúde da Família, que hoje atingem 56% da população do município. A ampliação dessa política pública pode influir em várias questões ao mesmo tempo: alerta para risco de violência contra crianças, incentivo à matrícula na creche e aleitamento materno, ampliação dos cuidados contra obesidade etc. Além de estendê-la, é fundamental fortalecer as ações de educação permanente para qualificar cada vez mais as equipes.

 

>> O índice de bebês nascidos de mães com 19 anos ou menos é de 13,5% – metade do que era há 20 anos, mas que deveria cair bem mais.

 

NUTRIÇÃO

 

>> O índice de crianças que nascem com menos de 2,5 quilos, 8,3%, aponta para problemas nutricionais durante a gestação ou falhas na assistência durante o pré-natal. A prematuridade e as cesarianas também são um importante vetor do baixo peso ao nascer.

 

PARENTALIDADE

 

>> Quase dois terços das mães declaram ter alimentado seus bebês de até 6 meses com leite materno. É um índice 10 pontos percentuais acima da média do país. Mas o ideal seria que mais mães o fizessem, já que não há alimento tão completo quanto o leite materno para um bebê – sem contar os vínculos afetivos e o equilíbrio emocional reforçados com a prática. Esta é outra frente em que a orientação das equipes da Estratégia Saúde da Família e os programas de visitação domiciliar podem ajudar.

 

PROTEÇÃO

 

>> A pobreza é sempre um foco de atenção, mas em Campo Grande ela é ainda mais preocupante. A julgar pelas inscrições de famílias no Cadastro Único para Programas Sociais, quase 18 mil crianças entre 0 e 6 anos vivem em famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza, não atendidas pelo Bolsa Família. Este dado realça a necessidade de rever os programas de enfrentamento da pobreza no município, priorizando o atendimento de famílias que tenham crianças de menos de 6 anos.

 

>> Outro dado que chama a atenção é a violência contra crianças de até 4 anos. O número de notificações se mantém há anos na faixa entre 700 e 800 casos. Como esses números se referem somente à violência que gerou atendimento médico ou hospitalar, eles são apenas a parte visível de um fenômeno bem maior, de casos que não chegaram a esse extremo. Uma vez que nesta idade as crianças não têm muita autonomia para sair sozinhas, é em casa que esta violência acontece, na imensa maioria das vezes.

 

É crucial, portanto, desenvolver programas de orientação e capacitação das famílias para práticas de parentalidade positiva, mostrando que violência não educa. Este é outro ponto em que os programas de visitação domiciliar e uma boa cobertura das equipes da Estratégia Saúde da Família podem ajudar.

 

EDUCAÇÃO

 

>> Uma das medidas mais urgentes para diminuir os riscos associados à pobreza é aumentar a oferta de creches, que hoje atendem pouco mais de terço das crianças de 0 a 3 anos. A proposta do Plano Nacional de Educação (PNE) é garantir a matrícula de 50% das crianças nessa faixa etária até 2024, em nível nacional – praticamente a necessidade do município, de acordo com Índice de Necessidade de Creches (INC). A metodologia, que permite estimar a quantidade de vagas necessárias, tendo em vista a priorização de grupos que mais precisam de atendimento, aponta uma necessidade de 49,1%.

 

>> Para a pré-escola, o município ainda precisa avançar para conquistar a universalização dessa etapa da educação. A taxa de atendimento é de 92% entre as crianças de 4 e 5 anos. Não é à toa que esta é a primeira etapa obrigatória da educação básica – já foi comprovado que ela é crucial para todas as crianças por oferecer os estímulos essenciais para o desenvolvimento.

Recomendações