Entenda os impactos positivos que determinadas intervenções podem trazer para a população brasileira a curto e longo prazos
O desenvolvimento da arquitetura cerebral da criança começa antes mesmo do nascimento. Por conta disso, os cuidados recebidos pela gestante e mãe – durante o pré-natal, parto, puerpério e amamentação – refletem-se no desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial da criança.
E esse cuidado deve perdurar. Os primeiros anos são extremamente importantes e têm repercussões que podem durar a vida toda. Esse período de desenvolvimento tem impacto significativo na capacidade da criança aprender, adaptar-se às mudanças e demonstrar resistência em situações difíceis. Portanto, essa etapa é uma janela de oportunidade para se promover o desenvolvimento pleno das crianças em seu município.
A atenção básica do Sistema Único de Saúde (SUS) é hoje uma das principais portas de entrada para as gestantes nos municípios. Garantir o acesso às consultas e exames pré-natais, o controle de riscos, a atenção aos aspectos emocionais das gestantes, a participação do pai/companheiro(a), a humanização do parto e nascimento, a promoção do aleitamento materno, a imunização, o controle de doenças contagiosas e o acompanhamento dos marcos do desenvolvimento infantil deve ser prioridade de uma gestão comprometida com a saúde e o desenvolvimento da primeira infância.
A adesão e ampliação da Estratégia Saúde da Família (ESF)*, por exemplo, é uma das formas de se fortalecer a atenção básica no município. As equipes identificam problemas comuns e riscos à saúde da população atendida, além de executar procedimentos de vigilância epidemiológica.
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Os resultados dessas intervenções são comprovados. No segundo ano após um município aderir à ESF, a taxa de mortalidade infantil cai, em média, entre 3% e 9% em relação à taxa do período anterior à ESF. O impacto positivo fica mais intenso ao longo dos anos em que o município permanece no programa, chegando a uma redução da taxa entre 6,7% e 14% no terceiro ano e entre 20% e 34% oito anos após a entrada no programa.
Há evidências, também, de que a ESF aumenta a probabilidade de as mães realizarem o pré-natal, bem como de terem seus bebês no ambiente hospitalar. Esses comportamentos levam à maior prevenção e detecção rápida de problemas na gravidez que poderiam acarretar complicações à saúde da mãe e da criança. Também há evidências de que o programa reduz a incidência de doenças infecciosas e parasitárias (incluindo as diarreias), doenças endócrinas, nutricionais ou metabólicas e respiratórias nas famílias. Sabe-se ainda que, após oito anos de implementação, tanto as taxas de mortalidade neonatal quanto as de mortalidade pós-neonatal caem expressivamente.
A presença da ESF nos primeiros anos de vida de uma geração está associada a uma diminuição no atraso escolar aos 7 e aos 10 anos de idade. Também está atrelada a um aumento na probabilidade de as crianças continuarem na escola entre os 7 e os 9 anos e também aos 12 anos de idade. Esses efeitos são mais presentes à medida que o tempo de exposição ao programa aumenta. Por todos esses motivos, entendemos que é necessário que o poder público invista nesse modelo assistencial da Atenção Básica, que já se mostrou extremamente eficiente.
Finalmente, empreender ações para fomentar o uso regular e registrado da Caderneta da Saúde da Criança pode ser uma importante via para o acompanhamento do desenvolvimento infantil no município, permitindo tanto a atenção individualizada quanto o planejamento das ações de saúde para a primeira infância baseadas em informação.
*A Estratégia Saúde da Família (ESF) busca promover a qualidade de vida da população brasileira e intervir nos fatores que colocam a saúde em risco, como falta de atividade física, má alimentação e o uso de tabaco. Com atenção integral, equânime e contínua, a ESF se fortalece como uma porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS).